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1º Festival de Cinema e Cultura Indígena realizou a primeira mostra de cinema no Território Indígena do Xingu (MT), inaugurando a primeira Casa de Cinema do território

Neste fim de semana, nos dias 17 e 18 de setembro, deu-se o primeiro passo da grandiosa jornada que é o 1º Festival de Cinema e Cultura Indígena (FeCCI 2022)! O FeCCI realizou a primeira mostra de filmes do Alto Xingu: a “Mostra Xingu” e inaugurou a primeira “Casa Cinema Indígena” em um território, na aldeia Ipatse do povo Kuikuro, no Território Indígena do Xingu (MT). 

 

A Mostra Xingu contou com a participação de 400 pessoas, dos povos Kuikuro, Kalapalo e Wauja. Além disso, celebrou-se diversas festas e rituais tradicionais, como a Festa Duhe (Tawarawana – Festa dos Peixes), a Festa Hugagü (Festa do Pequi), a Festa Yamurikumã (Festa das Mulheres) e o Ritual Takuaga (Ritual da Takuara). 

 

Durante a mostra, nas noites de sábado e domingo, ocorreram duas sessões de cinema com exibição de filmes ganhadores de vários prêmios, são eles:

 

 

 

A Última Floresta (Brasil, 2021, documentário, 1h14min) 

Direção: Luiz Bolognesi | Roteiro: Davi Kopenawa Yanomami, Luiz Bolognesi

 

Ganhador dos prêmios: Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2022 nas categorias Melhor Longa-metragem de Documentário e Melhor Montagem de Documentário; Prêmio Platino 2022 como Melhor Documentário.

 

Sinopse: Em um grupo Yanomani isolado na Amazônia, o xamã Davi Kopenawa Yanomani tenta manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de garimpeiros traz morte e doenças para a comunidade. Os jovens ficam encantados com os bens trazidos pelos brancos; e Ehuana, que vê seu marido desaparecer, tenta entender o que aconteceu em seus sonhos.

 

 

 

O Território (Brasil, Dinamarca, EUA, 2022, documentário, 1h23min)

Direção: Alex Pritz | Produção: Will N Miller, Sigrid Jonsson Dyekjaer, Darren Aronofsky, Gabriel Uchida e Lizzie Gillett | Coprodução: povo indígena Uru-eu-wau-wau, de Rondônia | Produção Executiva: Txai Suruí

 

Ganhador dos prêmios: Prêmio Especial do Júri de Obra Documental e Prêmio do Público de Documentário do Cinema Mundial no Festival Sundance de Cinema 2022.

 

Sinopse: Dentro do território Uru-eu-wau-wau, no estado de Rondônia, há menos de 200 pessoas para defender mais de 11.000 quilômetros quadrados de floresta tropical. Nas margens do território protegido, um grupo de posseiros se organiza para reivindicar oficialmente um pedaço de terra, enquanto grileiros individuais começam a desmatar trechos de floresta tropical para si mesmos. Com a sobrevivência da comunidade em jogo, Bitaté Uru-eu-wau-wau e Neidinha Bandeira – um jovem líder indígena e sua mentora – devem encontrar novas maneiras de proteger a floresta e a si mesmos.

 

Sobre o FeCCI 2022

 

O FeCCI é o primeiro festival nacional de cinema e cultura indígena idealizado por indígenas, focado na produção audiovisual de cineastas, coletivos e realizadores de origem indígena, que tem como objetivo contribuir para a difusão de obras cinematográficas e da cultura dos mais de 305 povos indígenas do Brasil. 

 

Após a Mostra Xingu, o festival continua, tendo como próximas fases: a seleção de filmes para Mostra Competitiva, com inscrições abertas até 25 de setembro; a escolha dos filmes para sua Mostra Paralela pela Comissão de Seleção do festival; as mentorias de profissionais da Associação Cultural de Realizadores Indígenas de modo online e presencial, em Brasília, que serão contempladas pelos três filmes selecionados para o FeCCI Lab – o laboratório de finalização de filmes curta-metragem do festival; e, ainda, a realização do festival, de 02 a 11 de dezembro, em formato híbrido com exibições presenciais no Cine Brasília (Brasília/DF) e com sessões online na plataforma de streaming Innsaei. 

 

O festival é idealizado pelo diretor, editor e cineasta do Coletivo Kuikuro de Cinema, Takumã Kuikuro. Ele trabalha com audiovisual há mais de 15 anos e desempenha diversas funções em realização audiovisual, como fotografia, montagem e roteiro, bem como é professor de cursos de formação que o Coletivo oferece a outros povos do Alto Xingu. 

 

Takumã já dirigiu muitos filmes, como: “Nguné Elü O Dia em que a Lua Menstruou”, em parceria com Maricá Kuikuro ganhador do Prêmio Chico Mendes de Melhor Documentário (2004), Melhor documentário no II Festival de Jovens Realizadores de Audiovisual do Mercosul (2005) e Troféu Unesco na XXXII Jornada Internacional de Cinema da Bahia (2005); “Imbe Gikegü – Cheiro de Pequi”, também com Maricá Kuikuro – ganhador do Prêmio Manuel Diégues Júnior, Museo del Folclore – Concepção e realização, na 10º Mostra Internacional do Filme Etnográfico (2006); Prêmio Especial do Júri, Festival Internacional de Curtas de Rio de Janeiro (2006) e Melhor Curta-metragem no Festival Présence Autochtone de Terres en Vue, em Montréal (2007). 

 

Ainda, Takumã dirigiu o documentário As Hiper Mulheres (2011), junto a Leonardo Sette e Carlos Fausto, que ganhou o Prêmio Especial do Júri e de Melhor Montagem no 39º Festival de Cinema de Gramado, 2011; Prêmio de melhor som no 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (2011) e Prêmio de Melhor Documentário no 7º FestCine Goiânia (2011). 

 

Em 2017, recebeu o prêmio honorário “Bolsista da Queen Mary University London”. E foi, em 2019, o primeiro jurado indígena do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília.

 

Durante a Mostra Xingu, Takumã Kuikuro comentou sobre a importância de se aldear o cinema e multiplicar a arte audiovisual dos povos originários:

“Nós realizamos essa mostra para que a gente possa mostrar [o cinema indígena] para o público indígena da aldeia, que nunca tiveram a oportunidade de ir a uma sala de cinema, porque isso é importante [para] a gente mostrar realmente nossa própria realidade”.

“Nós temos uma riqueza, uma cultura, dentro da nossa aldeia. [O cinema] é uma ferramenta importante para que nós possamos realmente lutar junto com as lideranças, através do audiovisual […] Cada vez mais, a gente tem que se tornar protagonistas de nossas próprias histórias”, reforçou Takumã. 

 

Daniel Kuikuro também comentou sobre a importância do cinema como ferramenta de luta:

“Antes nós usávamos apenas arco e flecha e, agora, temos a oportunidade de lutar com câmeras e com papel. Cada dia mais, a gente está sendo pressionado. Com isso, a gente está mostrando nossa realidade, nosso viver dentro da aldeia, nossa preocupação e nossa luta para preservar a natureza […] estamos gravando nossa cultura para ela não acabar”.

 

Durante a Mostra Xingu, contou-se com a participação da Secretaria de Cultura do Estado do Mato Grosso e da produtora responsável pelo festival “A Terrestre”. 

 

“A mostra do FeCCI no Xingu nos remete a olhar para a origem […], entender sobre nossa própria origem e sobre os povos originários. Com relação a Casa de Cinema, ela é a materialização de todo o trabalho feito por muitos anos […] Takumã após se lançar dentro do cinema no Brasil, foi passando esse “bastão”, foi entregando [sua experiência] para os meninos da aldeia para que eles entendessem e despertassem o interesse [pelo audiovisual], como aconteceu. Por isso, foi criado o Coletivo de Cinema Kuikuro. Então, a Casa de Cinema traz estabilidade, traz a materialização de tudo isso, porque assim maiores benefícios são trazidos para a aldeia, estimulando as produções audiovisuais, tanto por poder assistir a algum filme, se reunir na casa, como também para outros debates, conversas e aprendizados”, comentou Caliane Oliveira, produtora da A Terrestre. 

 

O FeCCI também é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), da Secretaria de Estado de Cultura e Economia do Distrito Federal.

 

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